31.10.08

EXCITAÇÕES NA BIBLIOTECA DE BABEL

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Ao princípio não me apercebi que lugar era aquele. Tinha acabado de deslizar para aquele estado de bem-aventurança pós orgasmo, quando a porta do quarto mudou de cor e o espaço que me envolvia transformou-se por completo.A cama com os lençóis de linho branco, todos emaranhados, desapareceu. O roupeiro embutido na parede desapareceu. Olhei para o meu lado e, já sabia que assim seria, B desapareceu também. Só o grande espelho que forrava a parede fronteira à cama tinha ficado, embora o seu brilho agora fosse cinzento metálico. Devia ser para combinar com o tom metálico da porta.
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Olhei-me a ver se continuava eu mesma, e suspirei de alívio. Os seios eram os mesmos, um bocadinho mais erectos do que o costume, a barriga era a que eu conhecia, os pelos púbicos aparados como sempre e os pés, eram os meus pés! Sem dúvida que eu não mudara.
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A medo abri a porta e entrei numa galeria hexagonal com um poço de ventilação no meio, cercado por parapeitos baixíssimos. As paredes estavam forradas por estantes com livros. Olhei para cima e os pisos de galerias idênticas estendiam-se até ao infinito. Olhei para baixo e era o mesmo cenário. Onde estaria? Numa biblioteca, sem dúvida, mas que biblioteca? Não tinha conhecimento de nenhuma assim.Resolvi passar para a galeria seguinte e vi a minha imagem reflectida no espelho do saguão de ligação das galerias. Estava nua, apenas com umas meias pretas e ligueiros, mas sem cinto de ligas. Observei melhor e reparei que os ligueiros estavam presos aos grandes lábios com umas molas pretas. Senti a excitação expandir-se pelo meu corpo nu à medida que caminhava para a próxima galeria hexagonal. Cada passo que dava fazia com que estremecesse de prazer e me arrepiasse toda.No que me pareceu uma eternidade, acabei por chegar à próxima galeria. Era igual à outra, cheia de estantes e livros. Ao acaso puxei uma lombada de cor preta. Voltei-o para ver a capa e quase o deixei cair de incrédula. A capa era igualmente preta, com uma fotografia de uma mulher nua ajeitando as meias pretas com ligueiros. Mas não foi isso que me fez tremer as mãos e quase deixar cair o livro.
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Foi o título do livro, EXCITAÇÕES, em letras brancas e grandes, e em letra mais pequena, Fotografias de B...
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. Devia estar a sonhar! Sem largar o livro decidi passar para outra galeria e só então reparei no bibliotecário que se encontrava à secretária, escondido na penumbra do próximo saguão de ligação. Resolvi perguntar-lhe como se poderia sair dali. Respondeu-me com um sorriso, - Minha querida, não se sai da Biblioteca de Babel, a menos que se tenha encontrado o livro escrito por nós. Como a Biblioteca é interminável, é como encontrar uma agulha num palheiro...!
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. - Mas eu encontrei! Ainda não o escrevi, mas encontrei!, disse quase a chorar de alegria.- A Biblioteca tem todos os livros escritos e por escrever. Se o encontraste, então o teu lugar não é aqui...! A Biblioteca é um lugar de busca...Deixei de o ouvir, no momento em que senti o braço de B a envolver-me a cintura. Na atrapalhação da saída, deixei cair o livro no poço vazio, mas ainda consegui ler a placa branca que se encontrava bem no topo da secretária: - J.L.Borges – Bibliotecário
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