8.4.08

ALL THAT JAZZ

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A sala contorcia-se nos tons de vermelho e preto, como que procurando o foco de luz branca que lhe daria a razão de ser. Ainda faltavam alguns minutos para o show must go on, e talvez por isso se sentisse um certo nervosismo no ar, ou seria a mistura dos cheiros perfumados de sábado à noite a fumarem o cigarro proibido? Fosse como fosse, escolhemos uma mesa bem em cima do palco, salpicado pelas eternas bolinhas de luz branca, na sua incansável orbita circular.
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Um empregado de mesa saído de tempos já idos, serviu as bebidas de circunstância e recostámo-nos na espera. O antigo cabaret, rejuvenescido nas memórias de glórias antigas, ainda ostenta aquele ar decadente chic, tão acarinhado nos tempos que correm. Já não aparecem por lá reis de Espanha, ombreando com Baptistas Bastos ébrios de boémia parquemaérista, nem os novos-ricos nos seus fatos deslumbrados no champanhe do alterne. São outros tempos, modernos e Catitas, abrilhantados pelos artistas do ano dois mil. Até apetece dizer Ena Pá.
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Olhei-te nos olhos, e estavas ausente. Flutuavas na expectativa do espectáculo surpresa, talvez pensando que estarias melhor umas portas mais acima. Acariciaste-me as coxas no gesto furtivo e espalhaste o teu sorriso na minha nudez interior. Os encarnados e pretos desapareceram no frémito clandestino.
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A decadência de uma miss com cabelos no peito rapado, fez-me relembrar o glamour das dragqueens wharolianas. Volta Candy Darling, eu perdoo-te tudo, mas por favor, espalha o teu glamour desaparecido. Era pena o glamour não se vender em frasquinhos, como o perfume. Estava a ser mazinha, pensei cá para comigo. No fundo, era um artista português. Support your local artist, pensei, ou seria dealler?
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A tua mão é que continuava dançando o tango proibido, e no entanto querido. Do tango passou ao foxtrot, e tive que fugir de ti quando o artista de musicall me olhou nos olhos, seria que me via?, e começou a cantar o êxito passado, reconhecido por mim e ignorado totalmente por ti. Todos na sala cantavam o refrão, menos tu e um ou dois envergonhados. Não cantavas porque não sabias. Era a primeira vez que o ouvias e sorrias para mim. Estavas-te nas tintas para o artista de musicall, para a canção do mistergay, e para o Maxime. Senti-me bem especial naquele momento.
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Quando voltámos a casa, enquanto me despia na penumbra, tu remexias febrilmente no armário dos Cds. Emergiste triunfante com um Cd na mão. Quando o puseste a tocar, compreendi de imediato o que me querias dizer.
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Temo-nos a nós no desejo imenso. O resto, o que sobra do nosso olhar sôfrego e terno, não é mais do que, All That Jazz.
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15 comentários:

Abssinto disse...

Há coisas que devem permanecer exactamente inalteráveis ao longos dos anos, o Maxime é uma delas. Aposto que já lá nos cruzámos.

(6f e sábado toca o José Cid, devo ir a um dos dois)

até jazz*
bj

Marrie disse...

Ainda vou experimentar ir a um show e "não assistí-lo" de verdade! rs
bjs

Jaime disse...

BB, como sempre, nesse teu estilo neodecadente. És o maxime. :-)
Beijinhos.

~pi disse...

vi: a preto e branco

acontecendo

lento e quente:

all that

jazzzzzzzzz

PHOTOMAIS disse...

Já esperava por mais uma escrita tua :.
Maxime :) esse nome soa-me bem

ANTONIO SARAMAGO disse...

Por acaso fui lá faz muitos anos e muitos tambem faz que não frequento uma sala dessas pois entendo que já nada tem a ver com o fascinio do passado ainda recente.
Faz bem ao EGO e quando se tem a hipótese de dar seguimento !!!!!

Laura Ferreira disse...

fantástico...

Peach disse...

Estava a ler o teu texto, e tive assim uma especie de deja-vu... lembrei-me que alguem mais aqui da blogosfera escreveu sobre o maxime e o Mr Gay :)

gosto da maneira que transformas momentos em historias :)

Nunca cheguei a ir ao Maxime... nunca me puxou muito... e agora ainda menos. Uma coisa é ser decadente subversivo glamoroso, e outra é ser decadente simplesmente porque não há dinheiro... e isso acontece com esse estilo de casa por todo o mundo. Estive no Moulin Rouge, e no Tropicana há uns anos... e senti-me triste e desludida.As plumas e as lantejoulas já não brilham.... com intensidade.

obrigada pelas tuas palavras no meu blog, obrigada pelo teu apoio. Agora a recuperar, espero ser mais assidua. beijos... muitos!

O Profeta disse...

Gostei...sente-se...


Doce beijo

Cúmplice... disse...

Sempre cativante...
É bom Ler-Te!...
Envolvente!...

Um Abraço!... :)

un dress disse...

vi o filme!!




:)




beijO

Shelyak disse...

Eu também quero...
:)))

Jo disse...

adoro o chic decadente conforme o descreves...
...and all that jazz. ;)

beijo*

Devaneante disse...

Obrigado por esta visita guiada... Até Jazz...

[A] disse...

Verdadeiramente alternativo é o La Paloma em Barcelona, ou era.


Curiosamente na Calle Tigre


http://www.lapaloma-bcn.com/

 
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