12.2.08

O CANTO DAS GAIVOTAS

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Sempre que queria estar verdadeiramente sozinho para se perder na imensidão de si, ou então quando se sentia tão só e tudo deixava de fazer sentido, ia para a praia deserta olhar o mar a fundir-se na linha inalcançável do horizonte.
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Gostava de sentir o frio húmido a entranhar-se no corpo e a fazê-lo tremer, confundindo a dor que o inundava de mansinho, como se fosse a maré a subir na enchente.
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Gostava do silêncio que antecipava o rebentar das ondas na areia. Era um silêncio a prazo, para ser vivido intensamente, tal como a vida.
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Gostava também do barulho atordoador que fazia a onda rainha de cada set, a espraiar-se até à muralha que separava a praia do passeio marítimo.
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Depois, e só depois, conseguia ouvir o canto das gaivotas. Não os gritos lancinantes que costumamos ouvir, mas o som encantatório das sereias a chamar os amantes perdidos.
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E por momentos fundia-se naquele som a tentar vislumbrar a sereia que o chamava de tão longe. Quase que a conseguia ver. Quase que a conseguia sentir.
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E ficava à espera de nova onda rainha, confundindo-se com a dor silenciosa que o envolvia. Ficava à espera de poder ouvir de novo o canto das gaivotas e ser transportado para aquele nevoeiro de sons que o chamavam.
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Os anos passaram e deixou de ir para a praia deserta olhar o mar a fundir-se na linha inalcançável do horizonte. Não queria ouvir de novo o Canto das Gaivotas. Não queria sentir de novo a dor que o inundava de mansinho, como se fosse a maré na enchente. A última vez que o viram, velejava com todo o pano içado, rasgando as ondas na direcção da mancha escura que tornava indistinta a linha que separa o mar do céu.
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17 comentários:

Anónimo disse...

Mas que coisa estranha, agora retrataste-me como numa pintura impressionista...

Devaneante disse...

Fiquei com uma vontade repentina de ir até à praia...

Shelyak disse...

Pequenas grande vitórias ou Grandes pequenas vitórias...?
:)

ana disse...

Obrigada Maria!
Elogios assim da pena de uma mulher é que são coisa rara!

Um sorriso aberto também para ti.
Ana

D. Sebastião disse...

Durante mtos anos foi isso que fiz. Já n oiço o canto das gaivotas. Por vezes apetece-me ir à procura...

Anónimo disse...

Excelente.
Também gosto (preciso). Só não consegui ainda velejar a todo o pano, rasgando as ondas. Um dia chego lá...

Abssinto disse...

Belo. Lembrei-me de mim em mi�do, quando encostava um b�zio que estava na sala de jantar ao ouvido, convencido que era o mar. Que paz.

bj

Jo disse...

a linha do horizonte talvez não seja assim tão inalcançavel, afinal...

beijo

aqui-há-gato disse...

Eu não minto...
Mesmo quando me falam de sereias...

O Gato

Viajante pelos Sentidos disse...

Quando vivia junto ao mar fazia-o sempre que podia. É libertador, tenho saudades.

Ele desapareceu nas ondas... e terá surgido noutra praia, encontrado outras sereias?

Gosto de imaginar esse final...

Um beijo viajante.

Natureza disse...

como me apetecia agora ter aqui uma praia bem pertinho!

Jaime disse...

Fico a pensar que partiu um bocado tarde!

Alguém Comum disse...

O mar e a areia...
A onda...

A sensação de liberdade por vezes faz-nos desaparecer.

Red Light Special disse...

Das metáforas mais lindas que já li... melhor velejar de pano içado e rasgar as ondas da dor, sem dúvida.
Beijinhos especial para ti. Bom fim de semana!

JOTA ENE ✔ disse...

Ola Maria, palavras bonitas como sempre, mas hoje irei debruçar-me suncintamente sobre o teu perfil.

Notavel, como te defines ... como mulher que certamente sabe o que quer ... enfim, parabéns mamãe.

P'ra ti ... uma barrita de chocolate ... mas não abuses LOL

Bjs e abraço ao fotografo!

O Profeta disse...

A melodia do teu canto reverbera no tempo
A lonjura é o momento do abraço
O teu sorriso chegou ao meu silêncio
Solta palavra doce no espaço



Uma torrente de emoções espera-te


Bom domingo



Doce beijo

Laura Ferreira disse...

às vezes apatece rumar assim, à terra de ninguém...

 
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